Júlia Esther de Almeida divide o título de rainha da escola de samba de Uberlândia Unidos do Chatão com a rotina de atendente de fast food. Em meio ao preconceito, ela se define como inspiração para outras jovens. Momento em que Júlia se tornou rainha de bateria
Reprodução/Arquivo pessoal
“Meu palácio tem rainha e não é uma qualquer, arreda homem que aí vem mulher".
Parafraseando a Rainha de Bateria da Mangueira, Evelyn Bastos, Julia Esther de Almeida usa a frase de um jeito forte e empoderado. Ela, que tem 26 anos e desde cedo teve que lutar contra o preconceito, é a primeira mulher transexual a ocupar a posição de rainha de bateria de uma escola de samba de Uberlândia.
Julia ocupa essa posição da Escola de Samba Unidos do Chatão e no próximo ano estará na passarela do samba da cidade, no tradicional desfile das escolas de samba.
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Para quem enfrenta lutas diárias, a rainha diz que estar nessa posição de rainha de bateria é um "verdadeiro tapa na cara da sociedade".
"O preconceito não me amedronta. Vou juntar todas as pedras lançadas contra mim e transformar em cristais para fazer a minha roupa brilhar na avenida", disse.
Neste mês de junho, em que se comemora as diversidades, Julia recebeu a coroa que vem carregando desde então, e ressalta que o samba é como um dom que a acompanha desde a infância.
Por outro lado, a rainha também diz que não está sendo uma missão fácil, principalmente pelo preconceito daqueles que dizem que não irão se curvar para uma rainha como ela.
“A faixa está na parede do meu quarto para eu nunca esquecer do porquê a carrego. Quero abrir portas para tantas outras como eu. Em São Paulo, por exemplo, o cenário do samba conta já com várias outras meninas trans, então é comum, aqui em Uberlândia ainda é algo que está começando, muita gente não aceita”.
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Além da coroa de rainha
Júlia Almeida, de 28 anos, é a primeira rainha de bateria trans de Uberlândia
Reprodução/Arquivo pessoal
Além da coroa, das lantejoulas e quando o batuque da escola de samba é substituído pelo som que anuncia que algum pedido ficou pronto, Julia precisa deixar a faixa em casa e enfrentar a rotina como atendente de fast food.
O dia a dia no shopping toma grande parte da vida de Júlia, que só pode retornar para a vida de rainha quando o avental dá lugar às roupas cravejadas.
Antônio Marcos, um dos líderes da Unidos do Chatão, disse que ter Júlia como rainha pelos próximos dois anos é uma grata surpresa proporcionada pelo concurso aberto à comunidade.
“Queríamos propor algo que toda a comunidade pudesse participar. O tempo passa para todo mundo e nossa rainha de bateria disse que não conseguiria continuar. Encontrar a Júlia em meio a tantas candidatas foi uma grata surpresa”.
É essa missão que chegou de surpresa, mas que move Júlia a cada dia, que ela se apega para se manter firme na missão de abrir oportunidades para tantas outras meninas trans como ela.
“O samba já nasceu comigo, e como a primeira rainha de bateria trans de Uberlândia quero conquistar ainda mais espaço para que tantas outras mulheres possam também ocupar esses lugares”.
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Publicada por: RBSYS